Vera 43 anos é casada, e tem dois filhos: de dez e doze anos.
Atua como líder de uma equipe e trabalha na área de TI de uma grande empresa do ramo farmacêutico na qual está há dez anos. Apesar de estar satisfeita com a remuneração, contar com bons benefícios, e ter construído boas relações na empresa , se sentia confusa e veio em busca de orientação profissional.
“Algo está muito errado em relação ao meu trabalho, mas não sei bem o que é” ela disse. Contou que ficou pensando se talvez estivesse na profissão errada, se seria o caso de mudar. Quem sabe fazer outra faculdade, ou mesmo sair do mundo corporativo para empreender.
Chegou até a se questionar se seria melhor dar um tempo do mercado de trabalho para se dedicar mais para a casa e os filhos. Apesar disso, ela dizia saber que não tinha a menor vocação para ser uma mulher “do lar”. Gostava de interagir com pessoas, participar de reuniões, alcançar metas e desafios. Embora ultimamente nem tanto.
Vera sentia muita culpa, sabia que era em relação a vida familiar mas não tinha clareza do que causava esse sentimento. Insônia, palpitações, desmotivação e uma tristeza inexplicável estavam tomando conta de Vera há alguns meses.
Se culpava também por se sentir insatisfeita profissionalmente uma vez que trabalhava em uma empresa sólida, tinha um bom salário, benefícios. Cultivava boas relações, era respeitada e a empresa tinha uma política de respeito e valorização ao colaborador.
Prosseguimos com o trabalho de orientação profissional, e ainda na fase diagnóstica percebi que o entrave não era o trabalho em si. Nem a empresa, a carga horária e muito menos esbarrava naquilo que chamamos de “falta de propósito”.
O ponto aqui era que Vera estabeleceu uma relação tóxica com seu emprego.
Como assim? Você pode estar se perguntando, afinal relações tóxicas não ocorrem somente entre pessoas?
Não necessariamente, pois não estamos falando de relações interpessoais. É possível ter uma relação tóxica com a comida, com o celular, com o dinheiro, com o trabalho, seja lá o que for. Veja que estamos falando aqui de instrumentos, ferramentas que nos levam a alguma finalidade, você pode fazer uso dessas ferramentas de uma forma saudável ou não.
Conforme aprofundamos nossas sessões, chegamos nas crenças em relação ao trabalho que Vera nutria.
Ela media seu sucesso como pessoa com base nos seus resultados profissionais e superação de metas.
Tinha a crença de que trabalho era sinônimo de batalha diária, luta, sacrifício
O trabalho se tornou fonte de ansiedade. Comparava seus resultados com o de outras pessoas. Se indignava quando pessoas menos experientes tinham oportunidades melhores.
Sentia temor de ficar desempregada e de não conseguir se recolocar aos 43 anos.
Levava trabalho a noite para a casa, e mal aproveitava o tempo com a família, o que desencadeou um forte sentimento de culpa.
A partir do processo de autoconhecimento, Vera entendeu que não buscava mudança de carreira, mas sim uma relação saudável com seu trabalho. Foi necessário rever e mudar suas crenças, e dissociar idéias distorcidas sobre ela mesma, bem como trabalhar o desenvolvimento da sua autoconfiança.
Com isso, reorganizou seu tempo de modo a ficar mais tempo com a família, ter lazer e descanso, começou a fazer atividade física. Traçou um plano de crescimento dentro da carreira atual que afirma gostar muito, e está fazendo uma especialização.
Se tivéssemos partido direto para um processo de transição de carreira, a insatisfação permaneceria e Vera repetiria o padrão em outro lugar. Isso não significa que em algum momento não acenda o desejo de mudar de profissão, mas ela estará mais consciente e fortalecida para realizar a transição de carreira.
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Gisele Essoudry
Psicóloga e orientadora profissional
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